13 janeiro 2012

Sinhá



"Se a dona se banhou 
Eu não estava lá 
Por Deus Nosso Senhor 
Eu não olhei Sinhá 

Estava lá na roça 
Sou de olhar ninguém 
Não tenho mais cobiça 
Nem enxergo bem 

Para quê me pôr no tronco 
Para quê me aleijar 
Eu juro a vosmecê 
Que nunca vi Sinhá 

Por que me faz tão mal 
Com olhos tão azuis 
Me benzo com o sinal 
Da santa cruz 

Eu só cheguei no açude 
Atrás da sabiá 
Olhava o arvoredo 
Eu não olhei Sinhá 

Se a dona se despiu 
Eu já andava além 
Estava na moenda 
Estava para Xerém 

Por que talhar meu corpo 
Eu não olhei Sinhá 
Para que que vosmincê 
Meus olhos vai furar 

Eu choro em iorubá 
Mas oro por Jesus 
Para que que vassuncê 
Me tira a luz 

E assim vai se encerrar 
O conto de um cantor 
Com voz do pelourinho 
E ares de senhor 
Cantor atormentado 

Herdeiro sarará 
Do nome e do renome 
De um feroz senhor de engenho 
E das mandingas de um escravo 
Que no engenho enfeitiçou Sinhá "

(Chico Buarque e João Bosco)


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